O
senador Aécio Neves (PSDB-MG) termina o ano em que disputou a
Presidência da República com um patrimônio de 51 milhões de votos e o
desafio de se manter como principal opção de seu partido para a próxima
corrida ao Planalto, em 2018.
Não será tarefa fácil,
especialmente num cenário em que, desde já, outros tucanos despontam
como potenciais "presidenciáveis" na sigla.
A votação que o mineiro
obteve --o melhor desempenho da oposição ao PT desde 2002 -- não impediu
que, já no dia de sua derrota, colegas de partido e analistas políticos
listassem o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como potencial
adversário interno de Aécio e forte candidato a representar o PSDB em
2018.
Alckmin foi reeleito em São
Paulo no primeiro turno, com 57% dos votos, garantindo aos tucanos o
poder no Estado por 24 anos consecutivos. A expressiva votação e o peso
que integrantes da ala paulista têm no partido fizeram do governador um
concorrente óbvio à Presidência. Ele trata o assunto com cautela.
Alckmin concorreu ao
Planalto em 2006, contra o ex-presidente Lula. Desde então, dedicou-se a
remontar suas forças em São Paulo. Tentou se eleger prefeito da capital
em 2008 e perdeu. Voltou em 2010 elegendo-se governador no primeiro
turno.
Seus aliados dizem que tudo
o que o governador não precisa neste momento é colocar "todos os
holofotes em São Paulo", o que ampliaria acertos, mas também possíveis
erros da administração.
O cuidado do paulista abre,
portanto, espaço para que Aécio tenha, ao menos pelos próximos dois
anos, condições de se manter competitivo dentro da sigla. Ainda assim, o mineiro terá que vencer muitos obstáculos, admitem seus principais estrategistas e aliados.
O primeiro deles será
permanecer com o comando nacional do PSDB -- a nova diretoria será
escolhida no ano que vem. Aécio preside a sigla desde 2013 e não deverá
enfrentar oposição de São Paulo para ficar no posto. "Poderia parecer
retaliação pela derrota da eleição", observa um aliado de Alckmin.
ESTRATÉGIA
A permanência na chefia da
legenda é vital para o senador dar outros passos. O primeiro: manter uma
agenda intensa de viagens pelo país, especialmente no Nordeste, onde o
PSDB teve seu pior desempenho na eleição.
A ideia é que Aécio possa
manter viva a militância que o apoiou nesses locais e tenha tempo para
divulgar suas propostas e se tornar mais conhecido na região.
Em outro lance vital, a
presidência da sigla também dará ao mineiro a possibilidade de intervir
diretamente na escolha das alianças e candidaturas para as próximas
eleições municipais, em 2016.
A prioridade, neste caso, é
retomar o controle de regiões importantes de Minas Gerais, o berço
eleitoral de Aécio. Governador por duas vezes e senador eleito pelo
Estado, ele perdeu a preferência dos mineiros para a presidente Dilma
Rousseff nos dois turnos.Aliados defendem que Aécio lance mão de
"pesos-pesados" do partido para conquistar cidades importantes.
Eleito senador este ano,
Antonio Anastasia, braço direito do tucano em Minas, é apontado como
melhor opção para a Prefeitura de Belo Horizonte. O deputado Marcus
Pestana (PSDB-MG) seria o nome para Juiz de Fora.
Por fim, os tucanos dizem
que Aécio terá ainda que atuar com maior protagonismo no Congresso. Seus
primeiros anos no Senado foram marcados por uma atuação "tímida" nos
ataques ao governo, só intensificados com a proximidade da eleição.
O desafio de atuar de
maneira incisiva ocorrerá no momento em que a bancada do PSDB no Senado
ganha nomes de peso. José Serra (SP), que travou por anos disputa
interna com Aécio, assumirá sua cadeira no ano que vem.
Há ainda Álvaro Dias (PR),
que se reelegeu com a maior votação que um senador teve no país. "O PSDB
precisa parar de analisar seus quadros apenas entre São Paulo e Minas",
disse Dias. Soou como um recado claro para Aécio.