quinta-feira, 23 de outubro de 2014

PROPAGANDA ENGANOSA

   Para inglês ver
Faltando quatro dias para as eleições, dois ministros enviados pela presidente Dilma estiveram, ontem, em Floresta, fazendo proselitismo eleitoral em torno da Transposição. Com a intenção de “vender” a ideia de que a obra é uma realidade, forçaram um teste artificial de bombeamento de um dos canais.
Tudo foi devidamente cronometrado para produzir efeito político e eleitoral. De Brasília, o Ministério da Integração, que não está nem aí para a mídia regional, pautou a Imprensa para acompanhar o “circo” e ainda ligou para diversos blogueiros do Nordeste para checar o recebimento do material (vídeo, imagens e texto).
Dilma, candidata à reeleição, fez de tudo para acompanhar o “falso teste”, mas na semana passada, quando ainda passava pela sua cabeça chegar lá com uma equipe da sua propaganda eleitoral, trabalhadores rurais fizeram um protesto, sob a alegação de que o bombeamento, mesmo para um teste, iria retirar 1% do lago de Itaparica, que está com sua capacidade hídrica comprometida.
As imagens geradas passaram a ser exploradas ontem mesmo na propaganda eleitoral, tudo, repito, para passar a ideia de que a Transposição é uma realidade. Mas não é. Ontem mesmo, trabalhadores contratados pela Mendes Júnior para o trecho entre Cabrobó e Penaforte (CE) paralisaram suas atividades, porque a empreiteira não está pagando as empresas terceirizadas.
Só uma empresa de alimentação está com uma pendência de R$ 2 milhões, que já entrou para o sexto mês. Sem poder oferecer uma refeição de qualidade, como determina a legislação trabalhista, passou a servir cuscuz, macarrão e ovo no almoço e jantar, enquanto para o café da manhã disponibiliza apenas pão com margarina.
A mesma empreiteira, responsável por aquele lote, chegou a promover a demissão de 400 trabalhadores na semana passada, mas teve que suspender depois de pressões do Governo, para não prejudicar a reeleição de Dilma. As cenas que o caro leitor passará a ver a partir de agora, que vão “encantar” pela forma cinematográfica, são apenas produtos de uma exploração em período eleitoral.
Programada para sair do papel em 2010, a Transposição anda capenga, sem previsão de conclusão. O valor da construção saltou de R$ 4,7 bilhões para R$ 8,2 bilhões entre compensações ambientais, desapropriações e despesas com mão de obra.
Apenas em licitações, o TCU identificou sobrepreço de R$ 876 milhões, além de R$ 248 milhões em aditivos acima do limite estipulado por lei. O TCU deu o primeiro alerta ainda em 2005, quando o tribunal fiscalizou os primeiros editais de concorrência para elaboração do projeto, execução e supervisão das obras, que foram “cancelados em decorrência do sobrepreço detectado da ordem de R$ 400 milhões”.
REALIDADE Enquanto o Governo monta o circo da Transposição, muitos moradores dos municípios do semiárido nordestino nem sequer têm água nas torneiras; usam a água distribuída por caminhões-pipa, de poços particulares ou públicos (a maioria com água salobra) ou da chuva (quando chove). Em Pernambuco, o Exército não consegue atender a demanda por carros pipas com o agravamento da estiagem.