Deputados anti-Dilma vão tentar convencer bancada a aderir a Aécio, sob alegação de melhora no diálogo com o partido
BRASÍLIA - Após Aécio Neves (PSDB) terminar o 1.º turno com mais votos
do que esperado até por seus aliados, parte dos deputados reeleitos pelo
PMDB tentam convencer a bancada do partido na Câmara, em reunião
marcada para esta quarta-feira, 8, em Brasília, a declarar apoio ao
tucano.
Esse grupo vai apresentar dois argumentos. O primeiro é de que ficou
longe da unanimidade a entrada do PMDB na coligação da candidata do PT à
reeleição, Dilma Rousseff. O outro é que, em seu primeiro mandato, a
petista deu pouco espaço para os deputados do PMDB participarem do
governo.
“A gente vai operar pesado pela mudança”, afirmou Darcísio Perondi
(PMDB-RS), que apoiou Marina Silva (PSB) no 1.º turno e já embarcou na
candidatura tucana.
Michel Temer, atual vice-presidente da República, foi indicado em junho
pelo PMDB para continuar como companheiro de chapa de Dilma neste ano
com apoio de 60% da convenção da legenda, porcentual abaixo do esperado
pela própria cúpula partidária. Os outros 40% defenderam o rompimento
com o PT.
A ideia do grupo anti-PT é pelo menos equilibrar a divisão e já preparar
a bancada para o caso de uma eventual vitória de Aécio. Para isso,
esses rebeldes contam com o apoio de representantes dos Estados em que
PMDB e PT foram adversários na eleição para governador, como São Paulo,
Rio de Janeiro, Bahia e Goiás, entre outros. Nesta campanha, houve menos
acordos regionais entre as duas siglas, na comparação com 2010.
Para os peemedebistas descontentes com Dilma, Aécio seria um presidente
com melhor diálogo com o partido, já que tem experiência como deputado e
exerce desde 2011 o mandato de senador por Minas. “Ele, inclusive, já
presidiu a Câmara dos Deputados. Convive bem com o Senado. E terá mais
facilidade para aprovar as reformas de que o País precisa”, afirmou o
deputado Danilo Forte (PMDB-CE).
O PMDB, assim como em 2010, elegeu neste ano a segunda maior bancada da
Câmara. Ficou com 66 deputados. O PT, com 70. Nesse sentido, a
articulação também é considerada uma “reserva de segurança” para a
próxima legislatura. Isso porque o líder da bancada, Eduardo Cunha (RJ),
tem interesse em se candidatar a presidente da Câmara em 2015. No
entanto, ele ainda não se posicionou sobre esse debate interno da sua
bancada.
Aparte. Nesta terça, no Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) também
manifestou seu desacordo com o apoio de sua legenda à reeleição de
Dilma. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez um discurso
em que exaltou o desempenho da sigla no 1.º turno das eleições e disse
que o partido “acertou” ao apoiar o projeto dos petistas que, segundo
ele, “está mudando o Brasil”.
O senador capixaba, que apoia Aécio, pediu a palavra e disse a Renan que
o PMDB não está unido em torno da reeleição de Dilma. “Estive ao lado
da mudança no 1.º turno e manifesto minha confiança de que o Brasil
votou pela mudança.”
FÁBIO BRANDT - O ESTADO DE S. PAULO