A
presidente-candidata Dilma Rousseff esteve num evento em São Paulo em
que cinco centrais sindicais lhe empenharam apoio: CUT, UGT, CTB, NCST e
CSB. Você não tem culpa nenhuma se jamais ouviu falar de algumas
siglas. A maioria dos trabalhadores também não. São meros aparelhos,
alimentados pela mamata do imposto sindical obrigatório. Não são
centrais, mas cartórios de burocratas, que tomam, de maneira vergonhosa,
um dia do trabalho de cada brasileiro que tem emprego formal. Antes de
falar aos presentes, Dilma se reuniu privadamente com o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Ele anda descontente com os rumos da
campanha. Segundo consta, quer, vamos dizer, um embate um pouco mais
sangrento.
Parece que
o encontro de ontem surtiu efeito. Dilma subiu no palanque e resolveu
retomar aquela velha patacoada petista da luta do Bem contra o Mal, do
“nós” contra “eles”. E, quando é assim, vocês sabem, a verdade é sempre a
primeira vítima.
A
presidente mandou ver, referindo-se aos tucanos: “Eles quebraram o
Brasil três vezes; por três vezes, eles levaram o Brasil ao Fundo
Monetário Internacional. No nosso período de governo Lula, fomos lá e
pagamos. Eles levaram a inflação à estratosfera antes de entregar para
nós o governo”. Dizer o quê? Há um único fato verdadeiro a ancorar uma
porção de inverdades.
Na gestão
tucana, é apenas um fato, o Brasil não quebrou nem três, nem duas, nem
uma única vez. Trata-se de uma mentira escandalosa. O país recorreu ao
FMI justamente para “não quebrar”, se é o caso de usar tal termo.
“Quebrar” é deixar de honrar compromissos. Em oito anos, o país
enfrentou ao menos cinco crises internacionais enquanto, atenção!,
cuidava de debelar a inflação entranhada na economia. Como esquecer, e
isto também é um fato, que o PT, o partido de Lula e Dilma, tentaram
inviabilizar o Plano Real, recorrendo, inclusive, ao STF?
E Dilma
seguiu adiante: “Sabe qual é a medida impopular que ele vai tomar? É
acabar com a valorização do salário. É essa medida impopular que nós
durante todo esse tempo mantivemos e que reparou a injustiça do passado e
deu justiça no presente aos trabalhadores”.
Um
candidato tem o direito de contestar a proposta de um adversário, mas
não é moral e eticamente lícito lhe atribuir uma intenção que não tem.
Mais uma vez, quero falar de fatos, de dados, de números. Dilma, que é
candidata, mas é também presidente da República, tem de ter um
compromisso com a verdade. Nos oito anos de governo FHC, o salário
mínimo teve valorização real (descontada a inflação, pelo IPCA), de
85,04%; nos oito anos de Lula, foi um pouco maior: 98,32%; nos quatro
anos da atual presidente, deverá ser de apenas 15,44%. Assim, sem que
falte clamorosamente com a verdade, a petista não pode afirmar que os
tucanos não promoveram a valorização real do salário mínimo. Promoveram,
sim, e em condições bem mais adversas do que as enfrentadas por Lula.
Mas quê… O
presidente da CUT, Vagner Freitas, mandou bala: “Se eleger Aécio ou
Eduardo, eles vão jogar fora a política de valorização do salário
mínimo. É por isso que eu sou Dilma. Não é por conta dela, é por conta
de um projeto. Eles são os candidatos do patrão”.
Na manhã
desta quinta, Aécio também se encontrou com trabalhadores. Participou de
um minicomício na porta da Voith, fábrica de máquinas e equipamentos
para indústria, no bairro do Jaraguá, zona norte de São Paulo. O evento
foi organizado pela Força Sindical. O tucano fez um convite a Dilma: “Eu
estimulo muito que ela vá às ruas, e não apenas nos eventos organizados
e programados, que ela vá olhar nos olhos das pessoas e possa perceber
que o sentimento do brasileiro hoje é de desânimo”.
Fim da chantagem
A política brasileira não pode mais ser
feita na base do terrorismo e da chantagem. Até outro dia, o PT se
colocava como único garantidor do Bolsa Família — e espalhava aos quatro
ventos que seus adversários pretendiam extingui-lo. A oposição pôs fim a
essa cascata propondo que o programa não dependa mais da boa vontade de
governos.
Agora,
creio que é preciso desmontar a outra falácia: a da suposta
desvalorização do salário mínimo caso se eleja um candidato de oposição.
Pelas regras atuais, o ano de 2015 será o último no qual será adotada a
atual fórmula de correção: variação da inflação do ano anterior e do
PIB de dois anos antes. Isso foi definido pelo Congresso Nacional no
início de 2011.
Que os
oposicionistas se organizem já e enviem ao Congresso uma proposta
prorrogando a atual fórmula até 2019. E fim de papo! Vamos debater os
reais problemas do Brasil e tirar os bodes e os fantasmas da sala. O PT
vai ter de aprender a fazer campanha sem usar o Bolsa Família e o
salário mínimo para fazer terrorismo e chantagem.
A
propósito: o partido não tem nenhuma proposta a fazer sobre o futuro?
Passará toda a campanha mentindo sobre o passado alheio e o próprio
passado?