O legado de Joaquim Barbosa
O Poder Judiciário do Brasil perdeu ontem (1) um dos maiores e mais
destemidos combatentes da corrupção que há anos habita principalmente o
Executivo e o Judiciário. O ministro Joaquim Barbosa, ex-presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), presidiu, na última terça-feira, sua
última sessão, e agora segue rumo à aposentadoria.
Odiado por uns e alçado ao posto de paladino da moralidade por
outros, o fato é que Barbosa não temeu as intimidações e ameaças e
conduziu, com punho de ferro, o julgamento do maior escândalo de
corrupção do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Relator do processo do mensalão, Barbosa mostrou ao Brasil que ainda não
é chegada a hora de desistir de lutar por um país mais justo, onde
criminosos como os petistas José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno
possam sim ser conduzidos à prisão como qualquer outro que resolva se
apropriar do dinheiro público.
Ao longo de uma ação penal que se arrastou por anos e que despertou a
atenção da população tamanha a capacidade de articulação da quadrilha
de mensaleiros para comprar apoios e advogar em causa própria, deixando
de lado os interesses daqueles que os elegeram, Barbosa comprou briga
com setores da mídia, poderosos e com a própria sociedade, que, diante
dos duros argumentos e da falta de compaixão do ministro para com as
práticas criminosas hoje tão conhecidas, muitas vezes saíam em defesa
dos “pobres coitados”.
Ameaçado em praça pública por militantes do Partido dos Trabalhadores
e por anônimos, por meio de redes sociais, Barbosa não se rendeu e foi
até onde pôde para garantir a punição aos membros da quadrilha comandada
por um ex-ministro da Casa Civil.
Agora resta ao país cobrar de Ricardo Lewandowski, novo presidente do
Supremo Tribunal Federal, o mesmo rigor na condução dos processos. Não
se pode passar a mão na cabeça de gente que não passa a mão na cabeça da
gente, mas no nosso bolso.
E ao ex-ministro Joaquim Barbosa, o nosso muito obrigado. (Carlos Cavalcante)